Sunday, September 30, 2007

Inland Empire, David Lynch (2006)



O novo filme de David Lynch, não tão novo assim, pode muito bem formar uma trilogia com os dois anteriormente comentados aqui. Todos os três seguem o mesmo tipo de linguagem, as mesma estrutura narrativa e lidam com a mesma questão.

A linguagem cinematográfica neste filme que Lynch levou três anos para concluir é bem similar a dos outros dois, economia de elementos, uso de efeitos de luz e sombra, contraste entre som e silêncio. Mas há também um uso muito interessante e significativo de dois efeitos visuais elementares, foco e lentes grande angular. Ambos fazem parte importante da narrativa, funcionando como momentos de distorção dos personagens e da história.

O que nos leva a estrutura narrativa. O filme começa com uma narrativa "tradicional", apesar de já bastante esquisita, e vai como que lentamente, através da distorção das imagens passando para o mundo dos sonhos, ou pesadelos. E de repente estamos envolvidos num furação de eventos desconexos e oníricos que vão até o final do filme, com algumas referências ao início do filme que longe de esclarecerem, nos confundem ainda mais.

Como sempre, o mesmo personagem é vários, e a questão da identidade, ou do papel, vira tema central e talvez o único sentido que se pode tirar do filme. Aqui, parece que identidade e tempo formam a dualidade, ou multiplicidade, da história. Logo no começo temos a indicação de que o tempo é maleável, de que o ontem pode ser hoje ou amanhã, e de que somos sempre o mesmo e sempre diferentes, o outro.

Mais uma viagem fantástica deste diretor completamento lunático, acho que o melhor é apenas relaxar na poltrona e curtir as três horas de grande cinema e deixar que sua imaginação seja alimentada pelo sonho, sem maiores preocupações de senso ou sentido. Talvez este seja o cinema pós-moderno, mas parece-me algo já bem antigo, basta ver Buñuel ou Fellini.

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