
Este é o filme da cena sobre a cena da faca. Dá realmente para confundir os dois, tanto Lost Highway como Mulholland Dr. tratam de uma mesma questão, central na obra de David Lynch, a identidade. Ambos são divididos em duas partes, nas quais as personagens têm diferentes identidades e comportamentos, e entender isto talvez seja a chave para entender os filmes.
Mulholland Dr. é um filme mais complexo, ou melhor, com maior riqueza de elementos narrativos e visuais, repleto de personagens obscuros com participações curtas na trama, mas ainda centrado em dois principais, agora duas mulheres, ainda um casal. Outra marca do diretor é a atuação entre teatral e despreocupada, dando um tom não-realista ao filme, numa mensagem de que não se deve tentar entender cada reviravolta da trama, e sim apreciar a trabalho de som e luz. Como coloquei sobre Lost Highway, Lynch entende o cinema como luz e som, e em Mulholland Dr. temos várias cenas que ilustram isto perfeitamente, sempre que um telefone toca há um abajur ao seu lado, e o som do telefone - o tipo de aparelho - e a cor da luz - o tipo de abajur - dão uma boa pista sobre que irá atender.
Silêncio. Claro, som e luz também significam a ausência destes. O sequência no Clubo Silêncio é por isto umas das mais significativas do filme e talvez uma das coisas mais interessantes de todo o cinema. Lá, tudo é ilusão, como é o cinema, tudo é gravado e não há banda, mas mesmo com o apresentador repetindo isto constantemente, e ainda nos revelando visualmente a ilusão, ainda somos enganados, uma e outra vez, numa mostra de que as sensações são mais fortes do que as idéias, de que nossa mente é uma pobre escrava da luz e do som.
Para os fãs de David Lynch vale conferir o website dele, que tem informações sobre seu novo filme Inland Empire, sobre o qual comento assim que conseguir vê-lo .
1 comment:
Mulholland Drive é um de meus filmes favoritos. Além dos truques de luz e sombra, Lynch investe em uma série de pequenos detalhes que ajudam a compor aquela atmosfera onírica (que acho uma das mais perfeitas que já presenciei no cinema desde Bunel). Um outro detalhe nada pequeno que gosto muito nesse filme é a trilha sonora, que além de casar perfeitamente com o clima soturno e esquizito, ainda conta com algumas músicas interpretadas pelo próprio diretor. Estou ansioso pelo novo filme. Dizem que no Brasil ele irá chegar direto nas locadoras, infelizmente.
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