Bom, cresci indo ao cinema e adorando filmes. E agora a cultura que vivemos não é cinematográfica, na verdade. Não é uma cultura de gente que espera o próximo filme do Truffaut ou do Bergman. Esse fenômeno não existe mais. Não há mais os filmes do Fellini. A maior parte das caras que controlam a indústria é bem triste. Alguns diretores muito bons emergem, mas têm de lutar e batalhar. Mas não há aquela sensação de todo mundo ir ao cinema de arte e no dia seguinte ficar falando do filme. E praticamente todos os heróis da minha juventudade já morreram. O Truffaut foi embora. O Bergman ainda está aí, mas está velhinho. O Buñuel e o Kurosawa foram embora. O Fellini foi embora e o De Sica foi embora. Houve um tempo em que você queria trabalhar e conseguir a aprovação deles, ser um deles. Essa era a fantasia.
A mesma coisa no teatro. O Arthur Miller se foi, o Tennessee Williams se foi, todo esse fenômeno teatral se foi. Houve tempo em que eu queria trabalhar no teatro e ser um desses dramaturgos, mas não existe mais uma paisagem de que se possa fazer parte. Os bons dramaturgos não funcionam na mesma arena. A estrutura da apresentação deles é diferente. Estão em alguma casa off-Broadway, e se tiverem sorte, e se a peça for um sucesso, levam para a Broadway. E não acontece mais de no dia seguinte a cidade inteira estar falando disso, e ser um espetáculo obrigatório, interessante e afetar as pessoas. A mesma coisa no cinema.
As gerações mais novas não são tão chegadas a cinema, não são letradas em cinema, nem conhecem os grandes filmes, a ideia que fazem do que são os filmes bons mudou. Não estou fazendo nenhum juízo de valor; apenas é diferente da minha. O cinema de que eles gostam não me interessa. Não estou dizendo que não existam filmes bons todo ano, existem - mas fazem centenas de filmes, e uns dois ou três filmes americanos bons se esgueiram pelo meio, em geral de gente independente, mas no mais das vezes são filmes europeus ou estrangeiros - podem ser iranianos, chineses, mexicanos agora - que são interessantes. E só você assiste. Telefono para a Keaton em Los Angeles e digo: "Você viu isso?". E ela diz que não foi lançado lá, ou que não sabe onde está passando.
- Você tem sua própria sala de projeção, mas vai ao cinema para fazer parte da multidão e vivenciar o filme junto com ela?
Não vou muito ao cinema. Isso costumava ser parte da alegria que eu tinha, ir ao cinema. Todo o ritual era divertido para mim. Gostava de olhar as garotas bonitas, e de olhar os caras, de ouvir as conversas, a expectativa aumentando, e então o filme. E depois, se você adorava, mal podia esperar voltar para casa e contar para os amigos. Mas esse fenômeno não existe mais; hoje existe uma dinâmica social diferente. As pessoas alugam vídeos; elas vivenciam o material de um jeito diferente. Isso não me interessa tanto.
Conversas com Woody Allen, de Eric Lax.
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