Sunday, January 15, 2012

Boardwalk Empire




Nada mais apropriado para comemorar o início da lei seca do que uma grande festa regada à champanhe e whisky, afinal, era uma grande oportunidade para os empreendedores estadunidenses (imigrantes, claro, pois trata-se de uma nação formada por imigrantes, visto que os nativos já tinham sido reduzidos a pó pelos corajosos soldados confederados). Assim começa o seriado da HBO produzido pelo Scorcese (que também dirige o piloto, o que serve como boa aula para futuros diretores verem a diferença entre um bom diretor e um diretor eficiente) e criado por Terence Winter (que escreveu vários episódios da série Sopranos).

Além da produção de alto nível, comum nos seriados da HBO, Boardwalk Empire destaca-se pela tentativa (não totalmente bem sucedida) de criar uma história complexa e personagens com certa profundidade, e pela atuação dos coadjuvantes (pois o Buscemi dá um show, como esperado). Retratando o batido período da lei seca nos Estados Unidos, Winter consegue criar uma história de gangsteres que passa (de forma rasteira) por diversos temas como raça, gênero, religião, política, e claro, com muita violência e sexo (apesar de que há uma tendência desagradável de diminuição das cenas de sexo – que no final da segunda temporada quase desaparecem – e aumento das cenas de violência – que também voltam a diminuir no final, talvez numa tentativa de tornar o seriado mais condizente com a caretice estadunidense). Usa também figuras legendárias do período de forma livre e criativa, brincando de forma inteligente com suas histórias e personalidades.

A tentativa de complexidade, também presente em referências diversas sobre acontecimentos importantes do período (algumas forçadas, mas ninguém espera precisão histórica de um seriado de gangsteres), falha em alguns momentos devido as próprias limitações do formato. Muito seriados sofrem desse problema, tentam dar profundidade aos personagens e ao mesmo tempo apresentar personagens variados e em grande número, deixando muito pouco tempo para trabalhar esta profundidade proposta e usando saltos que nem sempre ficam suficientemente amarrados na narrativa. Em alguns momentos a continuidade falha, em outros a caracterização de época vai para o espaço – principalmente em termos de costumes e comportamentos (também ideias) -, e vez ou outra usa-se o personagem coringa, aquele que vai e volta na história sem definir-se sua posição.

No final temos uma certa luta moral (talvez católica, mas não fica muito claro) que parece dar o tom para a terceira temporada (mas vai saber, afinal cada episódio é escrito por uma pessoa diferente, dirigido por uma pessoa diferente, editado por uma pessoa diferente e até atores diferentes – o filho da personagem principal não apenas é feito por outro ator a partir de certo ponto, mas também fica mais velho e passa a ser parte de história). No geral, é divertido, o Buscemi vale o ingresso (ou o tempo do download) e como o cinema morreu mesmo, talvez assistir a seriados bem feitos seja o que nos resta (pois video do youtube é demais).

Assista no Vuze.

Ps.: qualquer semelhança com nossos políticos é mera coincidência.


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