Nada mais apropriado para comemorar o
início da lei seca do que uma grande festa regada à champanhe e
whisky, afinal, era uma grande oportunidade para os empreendedores
estadunidenses (imigrantes, claro, pois trata-se de uma nação
formada por imigrantes, visto que os nativos já tinham sido
reduzidos a pó pelos corajosos soldados confederados). Assim começa
o seriado da HBO produzido pelo Scorcese (que também dirige o
piloto, o que serve como boa aula para futuros diretores verem a
diferença entre um bom diretor e um diretor eficiente) e criado por
Terence Winter (que escreveu vários episódios da série Sopranos).
Além da produção de alto nível,
comum nos seriados da HBO, Boardwalk Empire destaca-se pela tentativa
(não totalmente bem sucedida) de criar uma história complexa e
personagens com certa profundidade, e pela atuação dos coadjuvantes
(pois o Buscemi dá um show, como esperado). Retratando o batido
período da lei seca nos Estados Unidos, Winter consegue criar uma
história de gangsteres que passa (de forma rasteira) por diversos
temas como raça, gênero, religião, política, e claro, com muita
violência e sexo (apesar de que há uma tendência desagradável de
diminuição das cenas de sexo – que no final da segunda temporada
quase desaparecem – e aumento das cenas de violência – que
também voltam a diminuir no final, talvez numa tentativa de tornar o
seriado mais condizente com a caretice estadunidense). Usa também
figuras legendárias do período de forma livre e criativa, brincando
de forma inteligente com suas histórias e personalidades.
A tentativa de complexidade, também
presente em referências diversas sobre acontecimentos importantes do
período (algumas forçadas, mas ninguém espera precisão histórica
de um seriado de gangsteres), falha em alguns momentos devido as
próprias limitações do formato. Muito seriados sofrem desse
problema, tentam dar profundidade aos personagens e ao mesmo tempo
apresentar personagens variados e em grande número, deixando muito
pouco tempo para trabalhar esta profundidade proposta e usando saltos
que nem sempre ficam suficientemente amarrados na narrativa. Em
alguns momentos a continuidade falha, em outros a caracterização de
época vai para o espaço – principalmente em termos de costumes e
comportamentos (também ideias) -, e vez ou outra usa-se o personagem
coringa, aquele que vai e volta na história sem definir-se sua
posição.
No final temos uma certa luta moral
(talvez católica, mas não fica muito claro) que parece dar o tom
para a terceira temporada (mas vai saber, afinal cada episódio é
escrito por uma pessoa diferente, dirigido por uma pessoa diferente,
editado por uma pessoa diferente e até atores diferentes – o filho
da personagem principal não apenas é feito por outro ator a partir
de certo ponto, mas também fica mais velho e passa a ser parte de
história). No geral, é divertido, o Buscemi vale o ingresso (ou o
tempo do download) e como o cinema morreu mesmo, talvez assistir a
seriados bem feitos seja o que nos resta (pois video do youtube é
demais).
Assista no Vuze.
Ps.: qualquer semelhança com nossos
políticos é mera coincidência.
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